KAKAGAMES/BRASIL/ Sexta-feira 7 de setembro de 2012

© AFP
Índia: 1,2 bilhão de habitantes, dos quais 47% se dizem apaixonados por futebol, e 765 mil jogadores registrados apenas em 2011, cifra duas vezes maior do que em 2006. Com esses números, é difícil imaginar que o Campeonato Indiano não seja um sucesso. Mas a I-League, cujo formato atual foi introduzido apenas em 2007, ainda está engatinhando. Os patrocinadores são escassos, a audiência de televisão é limitada, e os estádios não costumam encher.
Os indianos, no entanto, adoram futebol. Os clássicos de Calcutá chegam a atrair até 100 mil espectadores, os jogadores da seleção são verdadeiros astros e os salários estão entre os mais atraentes da Ásia. O que falta, afinal, para que a competição decole? O FIFA.com foi a Nova Délhi para conversar com alguns dos principais nomes do futebol indiano e tentar desvendar o mistério.
Em março de 2012, quando o presidente da FIFA, Joseph S. Blatter, esteve em Nova Délhi, ele disse que a Índia era um "continente, mais do que um país", tendo em vista as proporções gigantescas do seu território e da sua população. Se, em essência, essa dimensão paquidérmica é a força da Índia, para a liga nacional de futebol, ela representa uma fraqueza.
"Três grandes cidades, Calcutá, Goa e Mumbai, têm cada uma quatro clubes no campeonato", explicou o dirigente máximo da I-League, Sunando Dhar. "Isso significa 12 dos 14 clubes da primeira divisão, o que não ajuda a dar um sentimento 'nacional' à competição. Atualmente, o norte, o sul e o centro do país não estão representados, e, para piorar, o sistema de acesso faz com que as equipes dessas regiões tenham pouquíssimas chances de progredir e chegar à elite", lamentou.
O secretário geral da Federação Indiana de Futebol (AIFF), Kushal Das, fez eco ao discurso de Dhar. "Estamos em busca de soluções para melhorar a visibilidade e a viabilidade do Campeonato Indiano", afirmou. "No momento, a I-League está muito concentrada em certas regiões. Ela precisa espalhar-se por toda a Índia."
Até 45ºC à sombra
Outro grande problema da competição é a deficiência da infraestrutura. "Os estádios não pertencem aos clubes, que precisam alugá-los junto às autoridades", aponta Dhar. "Isso significa que os times, ainda que tenham a prioridade sobre os estádios, não controlam a sua programação e nem a sua manutenção."
Outro grande problema da competição é a deficiência da infraestrutura. "Os estádios não pertencem aos clubes, que precisam alugá-los junto às autoridades", aponta Dhar. "Isso significa que os times, ainda que tenham a prioridade sobre os estádios, não controlam a sua programação e nem a sua manutenção."
O programa da FIFA "Ganhar na Índia com a Índia" possibilitou a construção de quatro campos de grama artificial em Mumbai, Shillong, Imphal e Bangalore. Outros dois estão a caminho em Goa e Calcutá, mas isso ainda é pouco. Além disso, apenas dois estádios contam com um sistema de iluminação suficiente para receber partidas noturnas. "A questão da infraestrutura é um verdadeiro desafio", confirma o secretário geral da AIFF. "Em dezembro estará pronta a reforma do Estádio Cooperage de Mumbai, para a qual a FIFA contribuiu financeiramente."
A impossibilidade de disputar partidas à noite não é um mero detalhe, como destacou Robin Singh, atacante da seleção e do East Bengal, em entrevista ao FIFA.com. "Na I-League, o horário em que jogamos faz toda a diferença", diz o jogador. "No meio da tarde, a temperatura pode chegar a 45 graus na Índia. Isso não é bom para os atletas e nem para o nível do jogo. Os torcedores presentes nos estádios também sofrem, e o horário não agrada às emissoras de televisão. Mudando apenas isso, acho que o campeonato ganharia em popularidade e qualidade." Subrata Pal, goleiro da seleção e do Prayag United, além de astro do futebol nacional, acrescentou que "nem todos os jogos são transmitidos pela televisão, apenas algumas partidas dos clubes de Goa e Calcutá".
A última deficiência apontada por todos os envolvidos com o futebol indiano foi a ausência de centros de formação. "No passado, não fomos capazes de criar um sistema de formação eficaz", reconhece Das. "Graças ao programa Goal da FIFA, montamos uma estrutura completa de desenvolvimento e atualmente estamos criando centros de formação", informou o secretário. "A FIFA nos ajudou a inaugurar escolinhas regionais, o que é muito bom", lembrou Dhar. "Mas nos países em que o futebol está mais desenvolvido, essa responsabilidade é dos clubes. Deveria ser assim também na Índia."
A equação é clara: bons centros de formação produzem bons jogadores, e estes fazem com que o público retome o interesse pelo campeonato local, em vez de acompanhar as ligas europeias. "Além da boa formação, precisamos atrair jogadores de nível internacional, como Robert Pirès e Hernán Crespo, que foram contratados por clubes indianos há alguns meses", aposta Dhar. "Se soubermos tirar proveito da presença desses jogadores, a popularidade do campeonato crescerá rapidamente." O dirigente está trabalhando, juntamente com o parceiro da I-League IMG-Reliance, para implementar um sistema de franquias patrocinado e administrado por empresas.
Uma popularidade latente
Diante de tudo isso, muitos poderiam pensar que a I-League não tem futuro. As perspectivas, porém, apontam justamente no sentido contrário, principalmente porque a popularidade do futebol no país continua latente. "Os jovens na Índia acompanham mais futebol do que críquete na televisão", destaca Das. Durante a Copa do Mundo da FIFA 2010, foram cerca de 100 milhões de indianos grudados nos aparelhos assistindo aos jogos.
Diante de tudo isso, muitos poderiam pensar que a I-League não tem futuro. As perspectivas, porém, apontam justamente no sentido contrário, principalmente porque a popularidade do futebol no país continua latente. "Os jovens na Índia acompanham mais futebol do que críquete na televisão", destaca Das. Durante a Copa do Mundo da FIFA 2010, foram cerca de 100 milhões de indianos grudados nos aparelhos assistindo aos jogos.
O que o futebol nacional precisa agora, todos parecem concordar, é de uma simples faísca, para que o interesse dos jovens no campeonato local exploda novamente. A começar pelas vitórias marcantes da seleção, como na Copa Nehru, conquistada há alguns dias diante de Camarões. "Esse título será de grande ajuda", garante Pal. "O estádio estava praticamente lotado para a decisão em Nova Délhi, e a população acompanhou em massa pela televisão. Isso só pode ser positivo para o futebol indiano, e acredito que a liga nacional possa se beneficiar dessa popularidade."
Outro potencial impulso para a I-League poderia vir da organização de uma grande competição internacional. Na cabeça de todos aqueles que trabalham no futebol indiano, a Copa do Mundo Sub-17 da FIFA 2017 já é quase uma realidade. "Organizar esse torneio seria um trampolim fantástico para o futebol indiano, sem dúvida nenhuma", comenta Singh. "Primeiro, porque o mundo do futebol reconheceria a capacidade do nosso país de sediar um evento desse porte. Segundo, porque conseguiríamos uma significativa exposição na mídia, que é algo que nos faz falta. Por último, ele permitiria que os jovens indianos conquistassem o seu espaço no cenário internacional."
Uma coisa é certa: todos sentem que este é o momento de virar o jogo, concentrando esforços em busca das soluções adequadas. "A situação atual não é a ideal", sentencia Dhar. "Está na hora de mudarmos as coisas, mas não em detrimento dos clubes, do futebol e dos órgãos dirigentes, como a AIFF, a AFC e a FIFA. É por isso que a 'Força-Tarefa para o Futebol Profissional Indiano', criada pela FIFA, é crucial para que possamos reunir conhecimentos e experiência e, assim, encontrar a melhor solução."
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