MANO PEDE PRA SAI ISTO E UMA VERGONHA

Mano e as vaias no Morumbi: tudo direito (Marcos Ribolli/GE.com)
A vaia é um direito que se compra com o ingresso – este é um dos princípios advogados por este blog e pouco me interessa se os apupos do Morumbi foram ou não motivados por clubismo. Todo torcedor tem o direito de não compactuar com a Seleção Brasileira de Mano Menezes, dado que o futebol e os resultados têm sido pífios.
Mas, vendo as declarações de técnico e jogadores, temo pelo pior. Porque falta, no mínimo, a noção de que é preciso conquistar a torcida. A ideia de que o torcedor tem que apoiar incondicionalmente é algo que não funciona na nossa cultura e a cada dia me soa a uma importação equivocada de comportamento de outros países.
O torcedor do Brasil nunca pegou a Seleção no colo sem que o time lhe desse fortes motivos. O time de Carlos Alberto Parreira, que terminou campeão em 1994, pagou caro o preço de ter sido a primeira equipe brasileira a perder um jogo de eliminatórias, para a Bolívia (2 a 0, em La Paz, com direito a frangaço de Taffarel). Precisou de bons resultados, precisou inventar um código de conduta – e as mãos dadas na chegada ao gramado, simbolizando união, cumpriram esse papel – e provou que merecia ser apoiada, com uma vitória no mesmo Morumbi que ontem vaiava: um 2 a 0 sobre o Equador.
A campanha de 2002 foi ainda mais tumultuada. Luxemburgo deu lugar a Candinho, que deu lugar a Leão, que deu lugar a Felipão, que perdeu até para Honduras, mas que nunca fugiu do papel de comandante. Bancou seu time até o fim, negou-se a reatar com Romário e ganhou a Copa do Mundo.
O que quero dizer com isso tudo é que a Seleção sempre precisou se impor primeiro – seja por palavras, seja por atos – para enfim merecer o apoio da torcida. Quando Mano diz que precisa do envolvimento do torcedor para construir uma Seleção, eu respondo que não, não precisa. A Seleção é que precisa construir a si própria.
Mano é um selecionador que transborda dúvidas. A impressão é que quer agradar a todos e que, por isso, lhe faltam as mais simples convicções. Toda vez que se revela um treinador hesitante, abre o flanco perfeito para aqueles que, como eu, nunca entenderam como ele chegou a ser a opção após a impossibilidade da assunção de Muricy Ramalho ao comando verde-e-amarelo.
Um exemplo? Todo técnico tem seus jogadores-teses, idiossincrasias nas quais confia, mesmo que o mundo lhe seja contra. Por incrível que pareça, Parreira teve que bancar Taffarel e Dunga contra tudo e contra todos e tinha especial admiração pelo opaco Paulo Sérgio, seu décimo-segundo jogador. Felipão tinha Gilberto Silva e Kleberson como certezas inabaláveis e nunca titubeou em público.
Por sua vez, Mano até hoje não achou sequer um goleiro – talvez o maior cargo de confiança de uma Seleção. Por que Diego Alves foi titular? Por que não efetivar logo Jefferson, o guardião que mais vezes foi chamado pelo próprio Mano (12 no total)? Por que convocar tanto um eterno reserva? Será Cássio o titular contra a fraquíssima China?
Enquanto houver essas dúvidas primárias, a Seleção continuará órfã. Por mais que se manifeste, o torcedor sabe que não comanda a equipe. Vaia e xinga porque vê zona onde quer ver comando, carisma e vitória. Mano Menezes não mostrou nada disso nos seus dois anos e um mês de CBF. A medalha de prata ante o México ficou marcada pela total inoperância na final, o que maculou um resultado que poderia ter sido honroso.
A primeira conquista será a da confiança. Enquanto Neymar e Daniel Alves ficarem muito surpresos com vaias, não terão reparado que o torcedor não confia no time que vê em campo. Isso preocupa.
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